segunda-feira, junho 14, 2004

A momentosa questão da abstenção...
- Só contam os que votam!

Os números são insofismáveis: a coligação governamental apanhou uma sova monumental e quem ganhou com isso foi o PS. Um castigo à direita. Toda a esquerda subiu. A direita afundou-se.
Isto não tem discussão.
Sobra apenas uma outra questão: a da abstenção.
Os que perderam argumentam com a abstenção. Só que a abstenção destas eleições, com ponte e 10 de Junho e Euro-2004 e tudo foi inferior à de há dez anos. E, por sinal, bastante semelhante à média europeia. Não serve de justificação, por mais que queiram!
Em democracia só contam os que votam. Os que com pouco ou muito sacrifício se deram ao trabalho de expressar a sua voz, votando.

Os outros são os que faltaram à chamada da democracia. Por variadíssimos motivos. Há os que morreram, os que estão no estrangeiro, os que estão doentes e os que não puderam ir votar por motivos de força maior (já me aconteceu uma vez, só uma). Estes fazem parte do que se chama abstenção técnica. Serão 3 ou 4%, quando muito. Não votaram porque não puderam, logo não se excluiram do sistema democrático. Para mim, mantêm intactos os seus direitos (menos os mortos, coitados, que estão naturalmente excluídos).
Depois há os outros. E os outros dividem-se em várias categorias:

1 - os que preferiram ir para a praia, ou p'ó campo, ou p'ó raio que os parta - que se lixem!
2 - os que acham que não vale a pena ir votar "porque são todos uns ladrões" - idem, aspas!
3 - os descontentes com o sistema político - idem, aspas!
(Se querem mostrar o seu descontentamento com o sistema político, então levantem os anafados cus das cadeiras e votem branco ou nulo, para que possam ser contados)
4 - os que não votam porque desprezam a democracia ou porque são contra ela - Estes fazem bem e pelo menos são coerentes!
(Mas não os podemos contar porque, como é evidente, eles próprios não se querem contar no campo da democracia)

Todas estas pessoas se excluiram voluntariamente do sistema democrático, consciente ou inconscientemente. Não votaram porque não quiseram. Por isso não têm direito a ser contados, nem temos nada que contar com eles.
Nem podem ser reclamados por ninguém, como é evidente.
Não votaram, não existem. Porque para a democracia, só contam os que votam. Os outros, não podemos contar com eles. Por isso, também não temos nada que os "ouvir", como dizia há pouco, hipocritamente, o Durão.
Que se lixem! Só contam os que estão do lado da democracia, os que votam!

sábado, junho 12, 2004

Portugal-Grécia - Um grupo de bons jogadores contra uma equipa

Visto o jogo, acho que a selecção jogou exactamente como nos jogos de preparação.
Dizia-se que era porque os jogos não eram a sério, que quando fosse a sério ia ser outra coisa. Eu próprio também queria acreditar nisso.
Mas os rapazes realmente estavam a dar o melhor que tinham, como ficou hoje demonstrado. Honra lhes seja feita!
O problema é que, viu-se no Portugal-Grécia, o melhor que eles tinham para dar era pouco...
E parece-me evidente que Scolari, pelo menos até agora, não cumpriu aquilo que se lhe pede e para que se lhe paga principescamente: fazer dos 23 jogadores que tem à sua disposição - a grande maioria deles muito acima da média - uma equipa.

Perder ou ganhar com as vitórias e derrotas da selecção

Tenho um amigo que defende sem rebuço que quer que Portugal e as equipas portuguesas de futebol percam todos os jogos e competições internacionais em que estão envolvidas.
Defende ele que "o que é bom para o futebol é mau para Portugal".
"Quando Portugal perdeu com os Estados Unidos no Mundial vim desde o Marquês à Avenida da Boavista no carro a apitar como um louco", contou-me. E eu acredito plenamente.
Custa-me um pouco, mas não posso deixar de concordar. O triunfo da selecção de Portugal é o triunfo do dr. Madaíl, que para mim simboliza tudo o que há de pior neste país: os compadrios e as negociatas do mais baixo jaez.
Na verdade, sempre me senti dividido entre dois desejos: o de que a selecção ganhe, por motivos óbvios, e o de que a selecção perca para que o madaílico sistema de poder, com os seus pintos-da-costa, luís-filipe-vieiras, valentins-loureiros e pimentas-machados tenha um castigo, por leve que seja.
Não é que eu pense que os que o vierem a substituir venham a ser melhores. Não tenho ilusões a esse respeito. Mas é bom esta gente apanhe umas humilhações de vez em quando.

Embora pense assim, claro que na hora da verdade fico a torcer pela selecção como se se tratasse do meu Benfica.
Agora vou telefonar ao meu amigo para ver como foi a comemoração dele hoje...

Portugal-Grécia

Se o Governo estava à espera dos resultados do Euro para a retoma, pois vai continuar à espera...

Bandeirite 2 - a maior bandeira

Já agora, a maior bandeira portuguesa que alguma vez vi na minha vida foi precisamente nos Estados Unidos, em Nova Iorque, a última vez que lá fui. Aconteceu um mês antes do 11 de Setembro.
Fui visitar o NYSE e ao caminhar pela Wall Street, em direcção à Bolsa, fiquei embasbacado ao ver, ao fundo da rua, uma gigantesca bandeira verde-rubra, esfera armilar e quinas ao meio e tudo.
Teria pelo menos uns 10 metros de comprimento e ondulava suavemente, ao ritmo da escassa brisa das 11 da manhã de um tórrido dia típico do Agosto nova-iorquino.
Curiosíssimo, fui até ao fim da rua - que por acaso até era o princípio. O nº 1 da Wall Street. Era a delegação do BCP em Nova Iorque. Gostei.

Fico a dever esta ao Jardim Gonçalves. Também já era tempo que o engenheiro me desse uma alegria...!

Bandeirite aguda

Subitamente, todo o pais se encheu de bandeiras nacionais. Elas estão em toda a parte, nas janelas, varandas, fachadas, montras, dentro das lojas e dos cafés, dentro dos carros e fora, ondulando nas antenas...

Faz agora um ano, passei dez dias (de férias) na Dinamarca. E a bandeira dinamarquesa estava presente em toda a parte, sempre ostentada com evidente orgulho, mas também com perfeita naturalidade. Não havia Euro nem nada de especial, era uma semana como qualquer outra na vida daquele país.
No Reino Unido a Union Jack é ubíqua. O mesmo acontece em Espanha, Itália, Alemanha, Bélgica ou Holanda.
Nas "mairies" francesas, enormes bandeiras são exibidas na fachada principal com uma "cagança" verdadeiramente imperial, napoleónica.
Mas é nos Estados Unidos que o culto da bandeira é levado ao extremo (outro império). A "Stars and Stripes" está em toda a parte. Todos os edifícios, oficiais ou privados, parecem estar numa competição, a ver quem apresenta a mais imponente bandeira. Coisa bonita de se ver, em minha opinião.

Esta paixão é uma coisa nunca vista neste Portugal, onde a bandeira nacional só se vê nos edifícios oficiais (e porque é obrigatório) de cujos mastros normalmente pende tristemente, o mais das vezes subdimensionada, algo desbotada, não poucas vezes com evidentes sinais de ter ultrapassado há muito o prazo de vida.

A culto da bandeira nacional é normal em todos os países que conheço.
A bandeira é para todos um forte elemento de identificação nacional.
Não será a pouca importância que os Portugueses dão à bandeira nacional a exacta medida da pouca importância que dão a si próprios? Pergunto e dou a resposta, que é afirmativa.

Por isso saúdo a epidemia de bandeirite que acometeu o meu país nestes últimos dias. Só espero que, daqui a umas horas, o resultado do Portugal-Grécia permita que as bandeiras possam continuar a ser exibidas com o mesmo fervor...

Quanto ao Euro-2004, que está na origem de tudo isto, fica para um dos próximos posts.
Agora vou pôr a bandeira lá fora na varanda...

quinta-feira, junho 10, 2004

Dia de Portugal e o mirandês

Inicio esta incursão na blogosfera no Dia de Portugal de 2004 em que o Presidente da República condecorou um cidadão cuja única razão de notoriedade consiste em ter conseguido quebrar (pelo menos a nível oficial) um dos mais distintos traços do meu país: a unidade linguística.

Que espécie de mecanismo leva a classe política desta nação a celebrar a elevação a língua oficial de um dialecto local, o mirandês, que talvez nem um milhar de pessoas fala?

Somos um dos escassíssimos países do mundo onde há absoluta unidade linguística, uma só língua em todo o território. Esta é uma das pouquíssimas coisas pela qual somos invejados tanto por grandes países como a Espanha ou o Reino Unido, como por pequeníssimos países como o Luxemburgo, todos a braços com maiores ou menores tensões internas por causa da diversidade linguística.
Nos manuais de Relações Internacionais a unidade linguística é uma virtualidade para qualquer país, algo que a esmagadora maioria dos países do mundo gostaria de ter e não tem.
Até o Luxemburgo, que não é maior que o concelho de Odemira, tem esse problema: três línguas - o francês, o alemão e o luxemburguês (uma língua popular que é uma mistura dos dois).
A existência de mais que uma língua num espaço político sempre factor de divisão e tensão.
Nós, felizmente, não temos disso!

Agora, imaginemos: um camone decide visitar Portugal e procura informar-se sobre o país. E fica a saber que Portugal é um país com dez milhões de habitantes onde há duas línguas oficiais - português e mirandês.
"Engraçado, português já eu sabia, agora mirandês desconhecia!" - pensa o camone com os seus botões.
Decide aprofundar o achado e verifica que o mirandês é uma língua falada por escassas centenas de pessoas num pequeno concelho do nordeste do país. Não tem literatura e apenas existem uns escassos livros escritos ou traduzidos à pressa para o mirandês, à custa de generosas contribuições da autarquia local.
Ridículo...!
É que por imbecilidade ou vesgo populismo, alguém achou giro que Portugal, para não ser menos que os outros, também tinha que ter mais que uma língua oficial e pronto, aí está...

Já agora porque não o rio de onorês? Ou o crioulo caboverdiano que dezenas de milhar de pessoas falam em vários bairros de Lisboa?
Não tarda nada temos aí os caciques locais a reclamar a promoção a língua nacional do felgueirês, do canasdesenhorês, do marcodecanavesês, ou do gondomarês.
Não tarda nada, lá desde a minha bela Madeira, onde nasci, o jardinesco sátrapa regional imporá ao Governo da República o reconhecimento do madeirês, que, como se sabe, transmuta no delirante jardinês, após o quinto whisky, ou a sexta poncha.

O que nos vale é que nem a imbecilidade dos nossos governantes consegue acabar com essa invejável virtualidade do meu país que é a unidade linguística.
A atitude do Dr. Jorge Sampaio, ao condecorar o professor de Miranda do Douro, é apenas mais uma amostra da miopia e/ou oportunismo da classe política lusitana.
O mirandês nunca deixará de ser o que sempre foi, uma curiosidade local.