sexta-feira, setembro 17, 2004

sábado, agosto 14, 2004

Notícias...!!!

Pivot da SIC Notícias de hoje, sexta-feira 13:
"Há boas e más notícias sobre o desemprego. As boas são que o desemprego baixou nos últimos dois meses. As más é que os números são piores relativamente aos meses de Junho e de Julho do ano passado", disse a moça, aparentando, pela expressão, alguma perplexidade.
Como se fosse novidade, como se o desemprego não descesse sempre nos meses de Verão. Como se aquilo que importa não seja, de facto a variação homóloga. E essa diz que o desemprego subiu. Essa é que é a notícia.
Quem ainda não saiu da perplexidade sou seu, com tanta ignorância....
Quem fará estas notícias? Será pura ignorância ou será pior que isso?

segunda-feira, agosto 02, 2004

Espoliados da Volta a Portugal - 2 / Quem quer saber da Kelme e da LA Pekol?

A outra grande diferença entre a Volta de antigamente e a de agora era que as equipas que concorriam eram de clubes genuínos. Estavam o meu Benfica, o Porto e o Sporting, os três grandes de sempre. E o Boavista, o Académico do Porto. E estavam outros clubes que se fizeram grandes graças aos ases do pedal, nomes lendários como os Águias de Alpiarça, Sangalhos, Ovarense, Louletano e Ginásio de Tavira, que ombreavam com os três grandes e de vez em quando lhes arrebatavam títulos e lugares cimeiros na classificação.
Por isso a Volta levava milhares de pessoas às bermas das estradas - nesses tempos em que não havia incêndios nas florestas - para experimentar durante fugazes segundos à vibração indescritível da passagem do pelotão. Só quem experimentou sabe o que é...
Durante o Verão, quando o futebol parava, transferíamos a nossa devoção clubística para os heróis da estrada, que seguíamos na praia entre os gelados, os mergulhos no mar, as batatas fritas à inglesa, as sumóis e as bolachas americanas.
Hoje, nem Benfica, nem Sporting, nem Porto, nem sequer os clubes que adquiriram notoriedade nacional no ciclismo (Sangalhos, Águias de Alpiarça, Ginásio de Tavira e Louletano) aparecem na caravana da Volta a Portugal.
As equipas de hoje chamam-se LA Pecol, Kelme, Fassa-Bortolo, Wurth-Bom Petisco, Imoholding, Lampre, Barbot-Gaia, Relax-Bodisol.
Mencionei apenas oito equipas. São 18 este ano, mas poderia continuar a lista, os nomes das restantes são tão estratosféricos como estes que citei. Nada nos dizem, com ressalva para a Beppi-Ovarense e a Carvalhelhos-Boavista, que mantêm referências dua equipas de antigamente.
Como poderíamos nós transferir a nossa afectividade, ou criar uma ligação emocional, com entidades com estes nomes destes, que nem sabemos o que fazem?
Porque será que os génios do "marketing" das empresas que investem no ciclismo não preferem aliar as suas marcas às mais seguras marcas de Portugal que são as dos grandes clubes, incluindo os grandes clubes do ciclismo?
Porque é que os responsáveis dos grandes clubes não apostam no indiscutível prestígio do ciclismo para prolongar pelo Verão fora a ligação às massas fiéis?
Tal como era, a Volta era um verdadeiro serviço público...
Mais uma razão de peso para nacionalizar a Volta...
A VOLTA É NACIONAL, NÃO É DO CAPITAL!!!!

Espoliados da Volta a Portugal - 1 Nacionalização já!!!

Quando eu era pequeno, a Volta a Portugal dava mesmo a volta a Portugal. A organização da prova levava os cerca de 150 corredores a todas as 18 capitais de distrito, por montes e vales, por estradas impróprias, em duelos emocionantes que íamos seguindo a par e passo pela rádio, porque a RTP só dava as imagens à noite.
Tudo era diferente então.
Hoje os corredores vão só às cidades cujos autarcas se podem dar ao luxo de tirar umas coroas razoáveis dos cofres municipais para entregar à organização da prova e que têm o peso suficiente para convencer os ricaços da terra - industriais, construtores civis ou grandes comerciantes - a contribuir com mais uns largos milhares para a jornada de promoção do burgo que é a passagem da caravana.
E assim, a Volta, o mais democrático e barato espectáculo desportivo de Portugal - não era preciso pagar bilhete para ver, é só chegar à berma da estrada - foi sendo apropriado só por alguns municípios. E a Volta deixou de dar a volta a Portugal e passou só a percorrer algumas partes do país - parece que cada vez menos - num percurso muitas vezes descontínuo, ao sabor do interesse comercial dos patrocinadores.
A organização é desde 2001da responsabilidade da PAD, empresa da qual é sócio maioritário a João Lagos Sport (do ténis), que a arrebatou ao "Jornal de Notícias" que a organizava há décadas.
Com este novo organizador, a economia e as sacrossantas leis do mercado tomaram conta da Volta. E estragaram-na.
É sempre assim. Com tudo. A música, o cinema, seja o que for. Quando as actividades passam a ser reguladas por interesses meramente comerciais, abastardam-se, empobrecem, perdem o encanto.
Roubaram-nos a Volta e por isso apelo desde já à formação da Associação dos Espoliados da Volta (AEV), para lutar pela devolução ao povo do que foi, durante décadas, um dos pontos altos do calendário desportivo português.
E o ponto básico do programa de acção para a AEV será, obviamente, a nacionalização da Volta a Portugal, a única forma de garantir a sua devolução ao povo!!!
A organização seria concedida anualmente à melhor proposta empresarial, com base num caderno de encargos que garantisse uma verdadeira volta ao território nacional.
LAGOS ESCUTA, O POVO ESTÁ EM LUTA!!!

sexta-feira, julho 30, 2004

As associações de estudantes

A minha profissão obriga-me, de vez em quando, a contactar com dirigentes das associações de estudantes.
De imediato se torna evidente que estes, de agora, nada têm a ver com os do meu tempo de estudante (princípios dos anos 70).
Nessa altura, os dirigentes estudantis estavam entre os melhores de nós. Na sua esmagadora maioria, eram cultos e idealistas, estudantes brilhantes e apaixonados militantes políticos e sociais - quando isso era, o mais das vezes, um passaporte para a prisão ou para uma ida antecipada para a guerra do Ultramar.
Arriscavam o coiro todos os dias frente à PIDE/DGS e à polícia de choque.

Os de agora, são aprendizes de quadros políticos dos partidos do "centrão", cinzentos carreiristas que usam as associações como trampolim para subir na hierarquia das juventudes partidárias e chegar o mais cedo possível à nomenclatura do partido, com um olho em São Bento ou mesmo nas listas das europeias.
É uma espécie de estágio. E bem remunerado.
As associações de estudantes são hoje autênticas empresas, com volumes de negócios anuais apreciáveis - muitas centenas de milhares de contos em dinheiro antigo - cujo principal objectivo é organizar as milionárias queimas das fitas, festas de curso, viagens de finalistas e vender fotocópias.
Há aqui muito dinheiro a ganhar.
Por isso os jovens dirigentes empresariais/estudantis vão chumbando ano atrás ano, de forma a manter a sua base de poder e a continuar em posição de partilhar o chorudo bolo da queima das fitas e actividades correlativas. E do negócio desenfreado das fotocópias dos livros de texto, em flagrante violação dos direitos de autor. Feito o mais das vezes em vil associação com professores, muitos dos quais se esmeram em recomendar livros impossíveis de encontrar de modo a que a negociata prossiga, de vento em popa.

Nos anos setenta, esta maltinha ia toda parar às fileiras da União Nacional (depois Acção Nacional Popular, com Marcello Caetano) porque era ali que podiam esperar um lugar confortável sob a tutelar sombra do regime, era ali que se podiam canditatar aos pedaços ou migalhas que o regime ia dispensando, controladamente, aos seus fiéis servidores.
É nestas autênticas universidades da traficância política que se formam, de negociata em negociata, com alguma "contestação" pelo meio ao ministro da Educação de turno (há que manter as aparências e motivos não faltam) os dirigentes políticos do futuro.

Haverá contadas excepções. Mas não passam disso, excepções. Infelizmente!
É isto o futuro de Portugal? Pobre país...!!!

quinta-feira, julho 29, 2004

O blogue sem imagens

Comecei o blogue há um mês. Poucos dias depois, achei que o blogue estava algo aborrecido porque não tinha imagens.
Uma imagem do Carlos Paredes, de uma guitarra portuguesa, da bandeira de Portugal ou de Miranda do Douro dariam outra atractividade a estas linhas...
Além do que as próprias imagens, em alguns casos, podem funcionar, por si sós ou com uma breve legenda, como depoimentos poderosos.

Vai daí, pedi a um amigo que dá pela alcunha de Libelinha, que já tem uma apreciável experiência bloguística - e que só não linko aqui porque não sei linkar - para me ensinar a meter imagens no blogue e ele prontificou-se. Parei o blogue (também havia o Euro e a festa...) e fiquei à espera três semanas para recomeçar já com imagens.
Mas o amigo Libelinha até agora, népias.
Por isso cá estou de novo, algo tristinho, sem imagens...
Lá terei que arranjar outro assessor bloguístico para me ajudar com as imagens e os links.

Madredeus - parte 2

Já agora vale a pena ir ver o site dos ditos Madredeus.
É bonito à primeira vista, mas depressa se revela aborrecido e pastoso como a sua música. Depressa se começa a detestar navegar ali, naquelas águas paradas. Ou seja, igualzinho à música deles, um espelho...
É só escrever Madredeus no Google e carregar no botão "I feel lucky", ou "Sinto-me com sorte".
Já agora, só queria que vissem o texto que o Pedro Ayres Magalhães (PAM) escreveu (!?) para o press-release que acompanhava o disco. É um rol de baboseiras pretensiosas, inaguentável, sobre o amor infinito que dão e que recebem do seu publicozinho. De uma confrangedora probreza mental. Nem o Santana Lopes.
E o pior é que o gajo (o PAM) se toma a sério. O PAM não se enxerga!!!
(Pelo menos o Santana estou certo que não se toma a sério. Tem mesmo uma carinha de "Já enganei mais um!" a seguir às baboseiras que diz...)

Ódios de estimação - 1: Os Madredeus

Os Madredeus (a partir de agora designados "os ditos") acabam de lançar mais um disco. É o oitavo, de acordo com a discografia no seu site.
Reparei nisto porque recebi hoje um press-release anunciando que eles vêm ao Porto apresentar o novo disco - chamado "Amor Infinito" - a 5 de Junho, nos jardins do Palácio de Cristal.
Embora oiça imensa rádio, possivelmente passaria muito tempo sem reparar que os ditos tinham um novo disco. Porque por mais discos que lancem, os ditos estão a tocar sempre o mesmo disco, vezes sem conta. Não sabem tocar outra coisa.
Inventaram uma fórmula. Tocar com instrumentos acústicos uma música que tem algo de popular, de português, de urbano, com um verniz de música erudita que lhe é conferida pelo instrumental que escolheram, que é todo acústico, com guitarras, violoncelo, acordeão, de vez em quando, mais a bela voz da Teresa Salgueiro. Ela não tem culpa...
A fórmula seduziu-me. Gostei do primeiro disco, a princípio. Eu e muita mais gente. Mas não cheguei a ouvi-lo muitas vezes. Porque rapidamente me cansou.
Na música, como em toda a arte, atrai-me quem inova, quem se aventura e arrisca quem desbrava e nos oferece novos terrenos sonoros para habitar.
E o que os ditos descobriram não era propriamente um terreno novo, era mais propriamente uma nesga, realmente pouca coisa. E a gente aborrece-se de espaços pequenos, por mais atraentes que possam parecer à primeira vista.
Tinha curiosidade pelo que se iria seguir àquele primeiro disco. O normal é que a um primeiro esboço se seguissem traços mais carregados, cores e formas novas, aventura, risco...
Qual quê...!!! O segundo disco e era apenas mais do mesmo, sem tirar nem pôr. E o terceiro, idem, aspas. E o quarto e aí por diante até ao oitavo, que acaba de sair. Está a soar na rádio e no breve tempo que deixo escoar até mudar a estação confirma-se que nada mudou.
E assim a minha curiosidade se mudou em irritação primeiro e em desprezo depois. Inventaram uma fórmula que resultou comercialmente e quedaram-se, contentes, por aí. Vivem confortavelmente desde há 17 anos com isto. Ou seja, isto nada tem que ver com arte. Isto não é sério.
Francamente, não entendo como é que alguém constrói uma prisão para se meter lá dentro o resto da vida.

Dezassete anos passaram desde o primeiro disco, milhões de quilómetros foram percorridos em digressão, oito discos - e sempre, sempre a mesma música.
Tudo debitado com uma pose estudada, imitando no vestir e na maneira como estão em palco os "músicos sérios".
Vende bem, a fórmula. Em sectores restritos, é certo, o que se chama um nicho de mercado, mas espalhado por todos os países do mundo. Vende bem mas cheira mal!
O consumidor típico deste produto será essencialmente urbano, gosta vagamente de música, mas não se interessa muito pelo fenómeno. Tem alguns 30 ou 40 discos "fixes" lá em casa. Vê esta música como um produto sofisticado, com um som algo "clássico", de que fica bem gostar.
Lembram-se daquele ubícuo poster de há alguns anos, com um menino com uma lágrima ao canto do olho?
Os Madredeus estão para a música como esse célebre poster está para a pintura.
Até quando abusarão da nossa paciência?

sábado, julho 24, 2004

Carlos Paredes - 2

Luto nacional para Carlos Paredes parece-me muito bem, inteiramente justificado.
Só não percebo como é que não aconteceu o mesmo com a Sofia a quem certamente o país não deve menos que a Carlos Paredes...
Também Maria de Lurdes Pintasilgo merecia do Estado Português, da democracia portuguesa, um reconhecimento especial.

sexta-feira, julho 23, 2004

Carlos Paredes, Portugal

Carlos Paredes é um gigante da música do século XX. Do mundo. É o poeta do som de Portugal.
Ele pegou num instrumento até então secundário - a guitarra portuguesa - e levou-o para o centro do palco, para o lugar de honra dos cartazes. Um caso raríssimo na música instrumental de raiz popular.
Paredes comprova que não há instrumentos secundários. Os limites de qualquer instrumento são os do músico que o toca. Por isso, foi com ele que a guitarra portuguesa ganhou maioridade e voz própria.
Trouxe também à música portuguesa, o prazer imenso - e a vertigem - da grande música improvisada - termo enganador, porque a música improvisada só é grande quando precedida do sofrimento do exercício obstinado, mil vezes ensaiado, para que a música possa sair livre do espírito, tendo no corpo do instrumentista apenas um humilde serventuário.
Não se pode cantar a música de Carlos Paredes porque sua guitarra tem dentro de si todas as canções do mundo, todas as poesias do mundo... milhões de vozes, milhões de palavras. Não há voz humana que consiga conter em si tudo isto, só a guitarra de Paredes.
Cada nota da Paredes contém mil poemas. Mil vidas entre um dedo que aperta uma corda e o outro, percutindo-a.
Está lá toda a poesia, o mar, rios, montanhas, cidades, todas as paisagens de Portugal, as nossas paixões, os nossos desgostos, as nossas alegrias, sabores, gostos, todos os sentimentos de Portugal.
Ninguém conseguiu até hoje concentrar numa qualquer forma de expressão artística o espírito deste país como Carlos Paredes.
Só é comparável com Amália.
Mas eu gosto mais de ouvir Carlos Paredes.

segunda-feira, junho 14, 2004

A momentosa questão da abstenção...
- Só contam os que votam!

Os números são insofismáveis: a coligação governamental apanhou uma sova monumental e quem ganhou com isso foi o PS. Um castigo à direita. Toda a esquerda subiu. A direita afundou-se.
Isto não tem discussão.
Sobra apenas uma outra questão: a da abstenção.
Os que perderam argumentam com a abstenção. Só que a abstenção destas eleições, com ponte e 10 de Junho e Euro-2004 e tudo foi inferior à de há dez anos. E, por sinal, bastante semelhante à média europeia. Não serve de justificação, por mais que queiram!
Em democracia só contam os que votam. Os que com pouco ou muito sacrifício se deram ao trabalho de expressar a sua voz, votando.

Os outros são os que faltaram à chamada da democracia. Por variadíssimos motivos. Há os que morreram, os que estão no estrangeiro, os que estão doentes e os que não puderam ir votar por motivos de força maior (já me aconteceu uma vez, só uma). Estes fazem parte do que se chama abstenção técnica. Serão 3 ou 4%, quando muito. Não votaram porque não puderam, logo não se excluiram do sistema democrático. Para mim, mantêm intactos os seus direitos (menos os mortos, coitados, que estão naturalmente excluídos).
Depois há os outros. E os outros dividem-se em várias categorias:

1 - os que preferiram ir para a praia, ou p'ó campo, ou p'ó raio que os parta - que se lixem!
2 - os que acham que não vale a pena ir votar "porque são todos uns ladrões" - idem, aspas!
3 - os descontentes com o sistema político - idem, aspas!
(Se querem mostrar o seu descontentamento com o sistema político, então levantem os anafados cus das cadeiras e votem branco ou nulo, para que possam ser contados)
4 - os que não votam porque desprezam a democracia ou porque são contra ela - Estes fazem bem e pelo menos são coerentes!
(Mas não os podemos contar porque, como é evidente, eles próprios não se querem contar no campo da democracia)

Todas estas pessoas se excluiram voluntariamente do sistema democrático, consciente ou inconscientemente. Não votaram porque não quiseram. Por isso não têm direito a ser contados, nem temos nada que contar com eles.
Nem podem ser reclamados por ninguém, como é evidente.
Não votaram, não existem. Porque para a democracia, só contam os que votam. Os outros, não podemos contar com eles. Por isso, também não temos nada que os "ouvir", como dizia há pouco, hipocritamente, o Durão.
Que se lixem! Só contam os que estão do lado da democracia, os que votam!

sábado, junho 12, 2004

Portugal-Grécia - Um grupo de bons jogadores contra uma equipa

Visto o jogo, acho que a selecção jogou exactamente como nos jogos de preparação.
Dizia-se que era porque os jogos não eram a sério, que quando fosse a sério ia ser outra coisa. Eu próprio também queria acreditar nisso.
Mas os rapazes realmente estavam a dar o melhor que tinham, como ficou hoje demonstrado. Honra lhes seja feita!
O problema é que, viu-se no Portugal-Grécia, o melhor que eles tinham para dar era pouco...
E parece-me evidente que Scolari, pelo menos até agora, não cumpriu aquilo que se lhe pede e para que se lhe paga principescamente: fazer dos 23 jogadores que tem à sua disposição - a grande maioria deles muito acima da média - uma equipa.

Perder ou ganhar com as vitórias e derrotas da selecção

Tenho um amigo que defende sem rebuço que quer que Portugal e as equipas portuguesas de futebol percam todos os jogos e competições internacionais em que estão envolvidas.
Defende ele que "o que é bom para o futebol é mau para Portugal".
"Quando Portugal perdeu com os Estados Unidos no Mundial vim desde o Marquês à Avenida da Boavista no carro a apitar como um louco", contou-me. E eu acredito plenamente.
Custa-me um pouco, mas não posso deixar de concordar. O triunfo da selecção de Portugal é o triunfo do dr. Madaíl, que para mim simboliza tudo o que há de pior neste país: os compadrios e as negociatas do mais baixo jaez.
Na verdade, sempre me senti dividido entre dois desejos: o de que a selecção ganhe, por motivos óbvios, e o de que a selecção perca para que o madaílico sistema de poder, com os seus pintos-da-costa, luís-filipe-vieiras, valentins-loureiros e pimentas-machados tenha um castigo, por leve que seja.
Não é que eu pense que os que o vierem a substituir venham a ser melhores. Não tenho ilusões a esse respeito. Mas é bom esta gente apanhe umas humilhações de vez em quando.

Embora pense assim, claro que na hora da verdade fico a torcer pela selecção como se se tratasse do meu Benfica.
Agora vou telefonar ao meu amigo para ver como foi a comemoração dele hoje...

Portugal-Grécia

Se o Governo estava à espera dos resultados do Euro para a retoma, pois vai continuar à espera...

Bandeirite 2 - a maior bandeira

Já agora, a maior bandeira portuguesa que alguma vez vi na minha vida foi precisamente nos Estados Unidos, em Nova Iorque, a última vez que lá fui. Aconteceu um mês antes do 11 de Setembro.
Fui visitar o NYSE e ao caminhar pela Wall Street, em direcção à Bolsa, fiquei embasbacado ao ver, ao fundo da rua, uma gigantesca bandeira verde-rubra, esfera armilar e quinas ao meio e tudo.
Teria pelo menos uns 10 metros de comprimento e ondulava suavemente, ao ritmo da escassa brisa das 11 da manhã de um tórrido dia típico do Agosto nova-iorquino.
Curiosíssimo, fui até ao fim da rua - que por acaso até era o princípio. O nº 1 da Wall Street. Era a delegação do BCP em Nova Iorque. Gostei.

Fico a dever esta ao Jardim Gonçalves. Também já era tempo que o engenheiro me desse uma alegria...!

Bandeirite aguda

Subitamente, todo o pais se encheu de bandeiras nacionais. Elas estão em toda a parte, nas janelas, varandas, fachadas, montras, dentro das lojas e dos cafés, dentro dos carros e fora, ondulando nas antenas...

Faz agora um ano, passei dez dias (de férias) na Dinamarca. E a bandeira dinamarquesa estava presente em toda a parte, sempre ostentada com evidente orgulho, mas também com perfeita naturalidade. Não havia Euro nem nada de especial, era uma semana como qualquer outra na vida daquele país.
No Reino Unido a Union Jack é ubíqua. O mesmo acontece em Espanha, Itália, Alemanha, Bélgica ou Holanda.
Nas "mairies" francesas, enormes bandeiras são exibidas na fachada principal com uma "cagança" verdadeiramente imperial, napoleónica.
Mas é nos Estados Unidos que o culto da bandeira é levado ao extremo (outro império). A "Stars and Stripes" está em toda a parte. Todos os edifícios, oficiais ou privados, parecem estar numa competição, a ver quem apresenta a mais imponente bandeira. Coisa bonita de se ver, em minha opinião.

Esta paixão é uma coisa nunca vista neste Portugal, onde a bandeira nacional só se vê nos edifícios oficiais (e porque é obrigatório) de cujos mastros normalmente pende tristemente, o mais das vezes subdimensionada, algo desbotada, não poucas vezes com evidentes sinais de ter ultrapassado há muito o prazo de vida.

A culto da bandeira nacional é normal em todos os países que conheço.
A bandeira é para todos um forte elemento de identificação nacional.
Não será a pouca importância que os Portugueses dão à bandeira nacional a exacta medida da pouca importância que dão a si próprios? Pergunto e dou a resposta, que é afirmativa.

Por isso saúdo a epidemia de bandeirite que acometeu o meu país nestes últimos dias. Só espero que, daqui a umas horas, o resultado do Portugal-Grécia permita que as bandeiras possam continuar a ser exibidas com o mesmo fervor...

Quanto ao Euro-2004, que está na origem de tudo isto, fica para um dos próximos posts.
Agora vou pôr a bandeira lá fora na varanda...

quinta-feira, junho 10, 2004

Dia de Portugal e o mirandês

Inicio esta incursão na blogosfera no Dia de Portugal de 2004 em que o Presidente da República condecorou um cidadão cuja única razão de notoriedade consiste em ter conseguido quebrar (pelo menos a nível oficial) um dos mais distintos traços do meu país: a unidade linguística.

Que espécie de mecanismo leva a classe política desta nação a celebrar a elevação a língua oficial de um dialecto local, o mirandês, que talvez nem um milhar de pessoas fala?

Somos um dos escassíssimos países do mundo onde há absoluta unidade linguística, uma só língua em todo o território. Esta é uma das pouquíssimas coisas pela qual somos invejados tanto por grandes países como a Espanha ou o Reino Unido, como por pequeníssimos países como o Luxemburgo, todos a braços com maiores ou menores tensões internas por causa da diversidade linguística.
Nos manuais de Relações Internacionais a unidade linguística é uma virtualidade para qualquer país, algo que a esmagadora maioria dos países do mundo gostaria de ter e não tem.
Até o Luxemburgo, que não é maior que o concelho de Odemira, tem esse problema: três línguas - o francês, o alemão e o luxemburguês (uma língua popular que é uma mistura dos dois).
A existência de mais que uma língua num espaço político sempre factor de divisão e tensão.
Nós, felizmente, não temos disso!

Agora, imaginemos: um camone decide visitar Portugal e procura informar-se sobre o país. E fica a saber que Portugal é um país com dez milhões de habitantes onde há duas línguas oficiais - português e mirandês.
"Engraçado, português já eu sabia, agora mirandês desconhecia!" - pensa o camone com os seus botões.
Decide aprofundar o achado e verifica que o mirandês é uma língua falada por escassas centenas de pessoas num pequeno concelho do nordeste do país. Não tem literatura e apenas existem uns escassos livros escritos ou traduzidos à pressa para o mirandês, à custa de generosas contribuições da autarquia local.
Ridículo...!
É que por imbecilidade ou vesgo populismo, alguém achou giro que Portugal, para não ser menos que os outros, também tinha que ter mais que uma língua oficial e pronto, aí está...

Já agora porque não o rio de onorês? Ou o crioulo caboverdiano que dezenas de milhar de pessoas falam em vários bairros de Lisboa?
Não tarda nada temos aí os caciques locais a reclamar a promoção a língua nacional do felgueirês, do canasdesenhorês, do marcodecanavesês, ou do gondomarês.
Não tarda nada, lá desde a minha bela Madeira, onde nasci, o jardinesco sátrapa regional imporá ao Governo da República o reconhecimento do madeirês, que, como se sabe, transmuta no delirante jardinês, após o quinto whisky, ou a sexta poncha.

O que nos vale é que nem a imbecilidade dos nossos governantes consegue acabar com essa invejável virtualidade do meu país que é a unidade linguística.
A atitude do Dr. Jorge Sampaio, ao condecorar o professor de Miranda do Douro, é apenas mais uma amostra da miopia e/ou oportunismo da classe política lusitana.
O mirandês nunca deixará de ser o que sempre foi, uma curiosidade local.