sábado, agosto 14, 2004

Notícias...!!!

Pivot da SIC Notícias de hoje, sexta-feira 13:
"Há boas e más notícias sobre o desemprego. As boas são que o desemprego baixou nos últimos dois meses. As más é que os números são piores relativamente aos meses de Junho e de Julho do ano passado", disse a moça, aparentando, pela expressão, alguma perplexidade.
Como se fosse novidade, como se o desemprego não descesse sempre nos meses de Verão. Como se aquilo que importa não seja, de facto a variação homóloga. E essa diz que o desemprego subiu. Essa é que é a notícia.
Quem ainda não saiu da perplexidade sou seu, com tanta ignorância....
Quem fará estas notícias? Será pura ignorância ou será pior que isso?

segunda-feira, agosto 02, 2004

Espoliados da Volta a Portugal - 2 / Quem quer saber da Kelme e da LA Pekol?

A outra grande diferença entre a Volta de antigamente e a de agora era que as equipas que concorriam eram de clubes genuínos. Estavam o meu Benfica, o Porto e o Sporting, os três grandes de sempre. E o Boavista, o Académico do Porto. E estavam outros clubes que se fizeram grandes graças aos ases do pedal, nomes lendários como os Águias de Alpiarça, Sangalhos, Ovarense, Louletano e Ginásio de Tavira, que ombreavam com os três grandes e de vez em quando lhes arrebatavam títulos e lugares cimeiros na classificação.
Por isso a Volta levava milhares de pessoas às bermas das estradas - nesses tempos em que não havia incêndios nas florestas - para experimentar durante fugazes segundos à vibração indescritível da passagem do pelotão. Só quem experimentou sabe o que é...
Durante o Verão, quando o futebol parava, transferíamos a nossa devoção clubística para os heróis da estrada, que seguíamos na praia entre os gelados, os mergulhos no mar, as batatas fritas à inglesa, as sumóis e as bolachas americanas.
Hoje, nem Benfica, nem Sporting, nem Porto, nem sequer os clubes que adquiriram notoriedade nacional no ciclismo (Sangalhos, Águias de Alpiarça, Ginásio de Tavira e Louletano) aparecem na caravana da Volta a Portugal.
As equipas de hoje chamam-se LA Pecol, Kelme, Fassa-Bortolo, Wurth-Bom Petisco, Imoholding, Lampre, Barbot-Gaia, Relax-Bodisol.
Mencionei apenas oito equipas. São 18 este ano, mas poderia continuar a lista, os nomes das restantes são tão estratosféricos como estes que citei. Nada nos dizem, com ressalva para a Beppi-Ovarense e a Carvalhelhos-Boavista, que mantêm referências dua equipas de antigamente.
Como poderíamos nós transferir a nossa afectividade, ou criar uma ligação emocional, com entidades com estes nomes destes, que nem sabemos o que fazem?
Porque será que os génios do "marketing" das empresas que investem no ciclismo não preferem aliar as suas marcas às mais seguras marcas de Portugal que são as dos grandes clubes, incluindo os grandes clubes do ciclismo?
Porque é que os responsáveis dos grandes clubes não apostam no indiscutível prestígio do ciclismo para prolongar pelo Verão fora a ligação às massas fiéis?
Tal como era, a Volta era um verdadeiro serviço público...
Mais uma razão de peso para nacionalizar a Volta...
A VOLTA É NACIONAL, NÃO É DO CAPITAL!!!!

Espoliados da Volta a Portugal - 1 Nacionalização já!!!

Quando eu era pequeno, a Volta a Portugal dava mesmo a volta a Portugal. A organização da prova levava os cerca de 150 corredores a todas as 18 capitais de distrito, por montes e vales, por estradas impróprias, em duelos emocionantes que íamos seguindo a par e passo pela rádio, porque a RTP só dava as imagens à noite.
Tudo era diferente então.
Hoje os corredores vão só às cidades cujos autarcas se podem dar ao luxo de tirar umas coroas razoáveis dos cofres municipais para entregar à organização da prova e que têm o peso suficiente para convencer os ricaços da terra - industriais, construtores civis ou grandes comerciantes - a contribuir com mais uns largos milhares para a jornada de promoção do burgo que é a passagem da caravana.
E assim, a Volta, o mais democrático e barato espectáculo desportivo de Portugal - não era preciso pagar bilhete para ver, é só chegar à berma da estrada - foi sendo apropriado só por alguns municípios. E a Volta deixou de dar a volta a Portugal e passou só a percorrer algumas partes do país - parece que cada vez menos - num percurso muitas vezes descontínuo, ao sabor do interesse comercial dos patrocinadores.
A organização é desde 2001da responsabilidade da PAD, empresa da qual é sócio maioritário a João Lagos Sport (do ténis), que a arrebatou ao "Jornal de Notícias" que a organizava há décadas.
Com este novo organizador, a economia e as sacrossantas leis do mercado tomaram conta da Volta. E estragaram-na.
É sempre assim. Com tudo. A música, o cinema, seja o que for. Quando as actividades passam a ser reguladas por interesses meramente comerciais, abastardam-se, empobrecem, perdem o encanto.
Roubaram-nos a Volta e por isso apelo desde já à formação da Associação dos Espoliados da Volta (AEV), para lutar pela devolução ao povo do que foi, durante décadas, um dos pontos altos do calendário desportivo português.
E o ponto básico do programa de acção para a AEV será, obviamente, a nacionalização da Volta a Portugal, a única forma de garantir a sua devolução ao povo!!!
A organização seria concedida anualmente à melhor proposta empresarial, com base num caderno de encargos que garantisse uma verdadeira volta ao território nacional.
LAGOS ESCUTA, O POVO ESTÁ EM LUTA!!!